Violência prossegue na Irlanda do Norte, apesar dos pedidos de calma


Manifestantes entraram em confronto com a polícia pela 10ª noite seguida em Londonderry. Também houve manifestações na capital, Belfast. Imagem de explosão perto de policiais em Belfast, na Irlanda do Norte, em 8 de abril de 2021
Jason Cairnduff/Reuters
Grupos de jovens e a polícia na Irlanda do Norte entraram em confronto pela 10ª noite seguida. As consequências do Brexit ameaçam o equilíbrio político que evita o estado de violência que imperava até o fim da década de 1990 no país.
O governo britânico reiterou seu pedido de calma nesta sexta-feira (9).
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Os incidentes em Londonderry começaram em 30 de março, quando um grupo de jovens lançou coquetéis molotov contra uma viatura policial na cidade. Desde então, houve mais atos violentos, especialmente nas regiões unionistas (ou seja, favoráveis à permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido) desta província britânica, onde os efeitos da saída da União Europeia provocaram um sentimento de traição e amargura.
Os incidentes reavivaram o fantasma de três décadas de violento conflito entre republicanos católicos (que são a favor da independência) e unionistas protestantes, que deixaram quase 3.500 mortos até a assinatura do acordo de paz da Sexta-Feira Santa de 1998.
Apesar dos pedidos de Londres, Dublin e Washington pelo fim da violência, a capital da Irlanda do Norte, Belfast, voltou a ser cenário de confrontos na quinta-feira à noite.
Em um distrito da zona oeste, a polícia foi alvo de coquetéis molotov e de pedras, quando tentava impedir que centenas de manifestantes republicanos se aproximassem dos unionistas. As forças de segurança usaram jatos d’água para dispersar a multidão.
Mais de 70 policiais ficaram feridos desde o início destes distúrbios sem precedentes em vários anos na região.
– Situação “muito preocupante” -Diante da situação, o governo britânico, cujo ministro para a Irlanda do Norte, Brandon Lewis, viajou à região, repetiu os apelos de calma – até o momento ignorados.
“A violência não tem nada a ver com a resolução dos problemas”, insistiu o ministro dos Transportes, Grant Shapps, que classificou a situação como “muito preocupante”.
“Temos que garantir que as pessoas conversem para resolver seus problemas, não por meio da violência”, completou.
A irmã de Lyra McKee, uma jornalista morta por tiros de republicanos dissidentes em confrontos em Londonderry em 2019, fez um apelo aos políticos norte-irlandeses para que “retomem o diálogo com aqueles que dizem estar tão descontentes que optam pela violência”, alegando que alguns foram “ignorados”, enquanto outros “acenderam o fogo”.
“Precisamos de uma liderança boa e verdadeira antes que alguém seja morto”, suplicou Nichola McKee Corner em uma entrevista ao canal RTE.
Na quinta-feira (8), os primeiros-ministros britânico, Boris Johnson, e irlandês, Micheál Martin, uniram-se aos líderes norte-irlandeses, tanto unionistas quanto republicanos, para condenar a violência “injustificável”.
A Casa Branca também pediu calma e alegou preocupação. O presidente Joe Biden, orgulhoso de suas origens irlandesas, já havia expressado preocupação com as consequências do Brexit para a paz na região.
– “Paz superficial” -Desde o acordo de 1998, existe uma “paz superficial”, afirmou à AFP Fiona McMahon, uma moradora de Belfast de 56 anos. Mas o conflito “está muito arraigado, não é apenas pelo Brexit”, completa.
Ao exigir a introdução de controles alfandegários entre o Reino Unido e a UE, a saída do bloco abalou o delicado equilíbrio entre as comunidades da província.
Para evitar o retorno de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a vizinha República da Irlanda – país-membro da UE -, Londres e Bruxelas chegaram a um acordo para dispositivos especiais conhecidos como o “protocolo norte-irlandês”.
Com o acordo, a província britânica permaneceu sob as normas do mercado único europeu, e os controles alfandegários foram transferidos para o Mar da Irlanda, entre a ilha e o restante do Reino Unido.
Apesar de ser um trâmite basicamente administrativo – reservado apenas para as mercadorias, e não para as pessoas -, o protocolo despertou nos unionistas, apegados à coroa britânica, um sentimento de separação do restante do país e de traição por parte de Londres.
Políticos do antigo IRA tentam apaziguar a situação
“Há formas políticas de falar do protocolo norte-irlandês”, declarou à rede BBC um deputado do partido republicano Sinn Fein, ex-braço político do dissolvido Exército Republicano Irlandês (IRA).
“Não tentemos encontrar justificativas para grupos criminosos que não deveriam existir 23 anos depois do Acordo da Sexta-Feira Santa”, completou.
“Não havíamos visto este nível de distúrbios em vários anos em Belfast e em outros lugares”, disse ontem o policial Jonathan Roberts, que apontou a participação nos confrontos de jovens de apenas 13, ou 14 anos, “estimulados” por adultos.
Mas nesta sexta-feira considerou que a violência “não foi orquestrada por nenhum grupo”, apesar de antes ter mencionado paramilitares. Ele fez um pedido aos pais e líderes comunitários, para que tentem convencer os jovens a não participar dos confrontos.
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Fonte: G1 MUNDO

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