Brasileiras relatam preocupação dos moradores de Hong Kong com a chegada do coronavírus

Brasileiras relatam preocupação dos moradores de Hong Kong com a chegada do coronavírus


Elas enfrentam dificuldade para encontrar máscaras e álcool gel e evitam sair de casa sem necessidade. ‘As pessoas são apavoradas e não acreditam no governo, temem que esse número não seja real’, diz a gaúcha Jéssica Franz. Julia Elpo Silveira usou máscara para sair nesta terça-feira (28) em Hong Kong
Julia Elpo Silveira/ Arquivo Pessoal
Brasileiras que vivem em Hong Kong contaram ao G1 que os moradores do território semiautônomo estão muito preocupados com a rápida expansão do coronavírus. Máscaras e álcool gel praticamente desapareceram dos mercados devido à alta procura.
Balanços do governo chinês apontam que mais de 4,5 mil pessoas foram infectadas na parte continental do país asiático e mais de 100 pessoas morreram, a maioria delas na província de Hubei, onde fica Wuhan, cidade onde começou o surto.
O vírus já atingiu 19 países. Até o momento, oito casos foram registrados na ilha de Hong Kong, mas o governo já tomou uma série de medidas na tentativa de evitar uma epidemia: serão suspensas linhas ferroviárias utilizadas por trens de alta velocidade, os serviços de ônibus e o transporte aéreo também serão reduzidos.
Os moradores de Hong Kong estão aproveitando o feriado do ano novo e a volta ao trabalho está prevista para quarta-feira (29). O governo e algumas empresas já permitiram que seus funcionários trabalhem em casa.
A consultora de negócios internacionais gaúcha Jéssica Franz, que mora há sete anos em Hong Kong, ficará em regime de home office até sexta-feira (31). Dependendo da expansão dos casos, é possível que a empresa onde trabalha libere os empregados para ficarem em casa por mais tempo.
“Em Hong Kong, o transporte mais usado para ir ao trabalho é o metrô, que possui ar condicionado mas não tem nenhuma ventilação. Qualquer contágio é muito fácil no metrô”, afirma a consultora.
Jéssica tem aproveitado o feriado e evitado de sair de casa sem necessidade. Em um supermercado que visitou, ela sentiu falta de alguns produtos como pão, verduras e mesmo macarrão instantâneo, alimento muito comum na região.
Ela também não conseguiu comprar máscaras e vai contar com a doação de amigas nascidas em Hong Kong.
“As pessoas são apavoradas desde a epidemia de Sars. Elas não acreditam nos balanços do governo chinês, elas temem que esse número não seja real”, conta Jéssica.
Entre 2002 e 2003, a epidemia Sars-CoV, que é da mesma família do coronavírus, matou 900 pessoas em dezenas de países. Só nas primeiras duas semanas de surto, os casos do novo coronavírus 2019-nCoV superam os da epidemia Sars-CoV.
Durante o surto de Sars, a população local ficou com a impressão de que o governo chinês demorou a agir de maneira transparente e divulgar a gravidade da situação, na avaliação de Jessica.
Julia (no primeiro plano) conseguiu comprar uma caixa de máscaras e dividiu com a amiga Priscilla (de óculos escuros)
Priscilla Bernardes/ arquivo pessoal
Comum o uso de máscaras
A gerente de produto Julia Elpo Silveira, de 33 anos, afirma que as pessoas estão receosas com a situação.
“O povo daqui se desespera muito fácil. Tem muita fake news circulando, dizendo que o número de infectados é muito maior do que o que foi divulgado. Eles ainda têm muito vivo na memória o que aconteceu na época da Sars”, afirma a brasileira de Florianópolis.
Com medo, os hong kongers correram para comprar máscaras, que são usadas comumente na ilha por quem tem gripe. Julia conta que conseguiu comprar uma caixa com 50 unidades depois de enfrentar uma fila quilométrica.
“Eu não falo cantonês nem mandarim, mas notei que as pessoas estavam em busca de máscaras. Cada um só poderia comprar uma caixa e estava muito mais caro. Normalmente, eu pago 30 ou 40 dólares de Hong Kong. Nessa caixa eu paguei 80 (o que equivaleria a 45 reais)”, afirma.
Ela disse que passou a utilizar máscaras depois de chegar a Hong Kong. Segundo Julia, álcool gel, sabonetes e lenços higiênicos com bactericida também desapareceram do mercado.
“Eu que nunca tinha ficado tão doente em toda a minha vida não conseguia entender o que estava acontecendo. Um médico me explicou que em uma ilha com quase 8 milhões de pessoas, mesmo que você tenha um sistema imunológico muito forte, você vai ficar doente”, conta.
Sensibilizada com a dificuldade para encontrar as máscaras, ela decidiu dividir com uma amiga recém-chegada que não teve a mesma sorte dela.
Raio X do novo coronavírus
Amanda Paes e Cido Gonçalves/Arte G1
Vitamina C
Carrie Lam, chefe do Executivo de Hong Kong, concede entrevista com máscara
Reuters/Tyrone Siu
Priscilla Bernardes, de 32 anos, chegou há apenas 10 meses em Hong Kong, quando os protestos populares contra a influência chinesa no território semiautônomo “estavam esquentando”. “Desde então, a vida tem sido só com emoção por aqui”, brinca a paulista, que trabalha com comércio.
“Todo mundo está tenso. Estou evitando aglomerações, estou evitando sair de casa. Saio para ir ao mercado, para comer alguma coisa. Está todo mundo evitando se expor. Você não sabe se a pessoa que está do seu lado pode estar contaminada, já que o vírus pode ficar por vários dias incubado”.
Priscilla ficou aliviada com as máscaras que ganhou da amiga. “Quem está sem máscara é como se estivesse agindo com falta de respeito, porque a pessoa não sabe da sua condição. Pode acontecer com qualquer um de ser contaminado e você não estar sabendo”, afirma.
Além de usar máscaras e evitar aglomerações, Priscilla disse estar tomando vitaminas. “Estou cuidando bastante da imunidade, tomando vitamina C e me hidratando bastante. É preciso evitar qualquer tipo de fragilidade.”
Ciclo do novo coronavírus – transmissão e sintomas
Aparecido Gonçalves/Arte G1
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Fonte: SAUDE

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