Clichê? De onde vem o mito da mulher gastadeira

Basta olhar as revistas femininas para constatar: falamos sobre dinheiro com homens e mulheres de formas diferentes.

A questão ficou clara com um estudo recém lançado pelo Starling Bank, banco digital inglês, que mostrou que existe uma linguagem de gênero sobre finanças. Os achados são impressionantes.

65% dos artigos direcionados a mulheres categorizam elas como “gastadoras excessivas”, enquanto 70% dos artigos para homens tratavam sobre como ganhar mais dinheiro. “Dizem para as mulheres economizarem no cafezinho para economizar para comprar um novo par de sapatos. Para os homens, dinheiro é sinônimo de ternos, investimentos e objetivos de longo prazo. Supercarros e iates e pessoas satisfeitas consigo mesmas”, diz a responsável pelo estudo, Anne Boden.

Mas não são apenas as revistas. Uma pesquisa mostrou que pais ensinam mais sobre investimentos e impostos para meninos do que para meninas. Não é à toa que 93% das mulheres brasileiras acreditam que seus maridos entendem mais de investimentos do que elas.

Ou seja: a sociedade segue reforçando os papeis históricos de gênero quando o assunto é dinheiro. Mulheres são “centros de custo” e os homens, provedores.

Muita gente me pergunta por que o mercado financeiro ainda é tão masculino. A resposta é simples e reside (como tantas outras) na história: até pouco tempo atrás, estes eram os papeis econômicos de cada um. O homem saia para trabalhar fora, enquanto a mulher ficava em casa, cuidando da família e do lar. A responsabilidade econômica dela era comprar os alimentos, roupas e mantimentos.

O mercado financeiro foi criado por homens e para homens – eram apenas eles que tinham dinheiro, afinal. O papel das mulheres era gastar. E que papel: economistas discutem que boa parte do boom econômico do pós-guerra foi gerado pelo consumo de eletrodomésticos, por exemplo. Nos dias atuais, as mulheres são tidas como responsáveis por 80% das decisões de compra das famílias (do papel higiênico ao carro do marido).

O mundo se transformou radicalmente no século passado. As mulheres não tinham o direito de entrar no pregão da Bolsa – a primeira foi Luiza Pilosio, em (pasmem) 1975. Ainda hoje, as mulheres representam apenas 22% do total de investidores na Bolsa. Foi apenas no fim dos anos 1960 que as mulheres passaram a ter o direito de crescer profissionalmente, ganhar o seu próprio dinheiro e de ter a sua própria conta bancária.

Esta visão de que o mundo dos investimentos é algo inerentemente masculino é, portanto, uma construção histórica – que precisa ser descontruída urgentemente.

“É um ciclo vicioso”, disse Boden, e emenda: “A mídia fala sobre dinheiro e mulheres de uma certa forma e as pessoas começam a falar desta forma também. É isso que fica em nossas mentes”.

Sejamos claros: não vai ser o corte no cafezinho que vai transformar a sua vida financeira. Precisamos incluir as mulheres no universo financeiro e desmistifica-lo para elas. Enquanto ficarmos nesta conversa de que elas querem bolsas e sapatos, e eles, ternos e iates, saímos todos mais pobres da discussão.

O que não quer dizer que não deve haver uma conversa sobre dinheiro apenas para mulheres. Muito pelo contrário: precisamos reconhecer que as mulheres ganham menos do que os homens (a desigualdade salarial é um fato no Brasil e no mundo), têm menos tempo disponível (por conta do segundo e terceiro turnos nos cuidados com o lar) e entendem menos sobre o assunto.

Por isso, seja você homem ou mulher, faço um pedido: compartilhe este artigo (e muitos outros) com as mulheres da sua vida. Este é o primeiro passo para construirmos uma sociedade mais igualitária, onde homens e mulheres sabem cuidar do seu dinheiro e investir bem.

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Fonte: FONTE INFOMONEY

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